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VIABILIZAÇÃO TURÍSTICA DO PROJETO FORTALEZAS DA ILHA DE SANTA CATARINA
VIABILIZAÇÃO TURÍSTICA DO PROJETO FORTALEZAS DA ILHA DE SANTA CATARINA
Por Antônio Diomário de Queiroz.
Quando assumi a Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina em maio de 1992, já se encontrava em sua fase final o processo de restauração das fortalezas da Ilha de Santa Catarina, iniciado havia mais de duas décadas. Participara diretamente do imenso trabalho de recuperação e valorização desse património da humanidade desde os anos 80, quando Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão. Como responsável pela administração do projeto, fiz inúmeras visitas às fortalezas para encaminhar providências administrativas ou para acompanhar visitantes da Universidade, que as tinha como belo cartão postal. Desde então as fortalezas me encantaram. Elas cativam por sua beleza arquitetônica, pela magnífica localização num dos cenários naturais mais bonitos do mundo, pelos valores da cidadania que evocam as obras de nossos antepassados portugueses.
Em 1992, a grande questão que se colocava à nossa equipe de trabalho na Reitoria era como associar esse processo de restauração a uma efetiva utilização dos espaços reconquistados, viabilizando não só culturalmente mas economicamente a preservação posterior dos monumentos. Concluídos os aportes de recursos da Fundação Banco do Brasil destinados especificamente para as obras, restava para a UFSC o ônus da manutenção do projeto, com custos elevados de mão-de-obra, transporte e energia, além da manutenção difícil e de baixa confiabilidade do gerador próprio a óleo diesel que operava na ilha de Anhatominm. A tentativa de transformar a ilha em um centro de pesquisas marinhas frustrara-se por essas dificuldades e pela percepção de que o acesso aos meios naturais de todo o ecossistema costeiro se fazia com mais facilidade a partir da própria ilha de Santa Catarina.
Procedida a análise do ponto de equilíbrio econômico das visitações às fortalezas, ficou clara a percepção de que a quantidade de 40.000 pessoas que procuraram as fortalezas em 1991 não seria suficiente para cobrir o total dos custos fixos do projeto, a não ser pela cobrança de taxa de turismo de preço inviável, dadas as condições precárias dos serviços oferecidos. Nosso desafio constituiu-se então em multiplicar o número de visitantes, melhorar as condições de acesso e permanência nos sítios históricos, e, ao mesmo tempo, ampliar a geração de recursos próprios e reduzir os custos fixos das operações. Para isso seria preciso integrar definitivamente as fortalezas ao roteiro turístico de Florianópolis, afirmando-as como uma opção segura e maravilhosa de turismo histórico e educativo.
Foi essa a diretriz e o compromisso que propus à liderança do Pró-Reitor Júlio Wiggers de Cultura e Extensão, aos seus colaboradores, Alaor Jesus Corrêa, Toni e Terezinha e aos demais servidores técnico-administrativos que se empenharam com muita vontade, amor e competência nesse trabalho. Já em 1995 foram registradas visitas de 145.000 pessoas às fortalezas e somente na temporada de verão de 1996 esse número foi superior a 100.000.
Para alcançar esses expressivos resultados, foi melhorada a infraestrutura colocada à disposição dos visitantes e realizada intensa programação cultural nos mais variados campos da arte.
O principal projeto de melhoria foi a iluminação da Ilha de Anhatomirim com energia elétrica, graças ao apoio e à intervenção pessoal do Governador Vilson Pedro Kleinubing. Merecem também destaque a reconstrução e o aumento dos trapiches, a aquisição de barco inflável, a recuperação dos aquários, a ampliação do número de sanitários, a instalação de bom restaurante e lanchonete, a melhoria da cozinha e dos dormitórios, a construção das guaritas de acesso à ilha, a instalação da telefonia celular. Em Ratones, além da complementação dos trapiches, implantou-se trilha ecológica para passeio na bela mata atlântica da ilha, recuperaram-se os canhões, gramou-se o patamar das bandeiras. Em São José, com o apoio da Prefeitura Municipal, realizou-se o calçamento de todo o entorno da fortaleza até a praia. Isso só foi possível após trabalhoso esforço de integração com a comunidade local, envolvendo árduas negociações com o Exército, IPHAN, Habitasul e Clube Doze, até encontrar-se ponto de convergência para superar situação de conflito que se agravava. Elaborou-se então um Plano Diretor para o Forte de São José contemplando programa de valorização turística da área.
No âmbito da cultura, vale mencionar o resgate e a exposição permanente das peças arqueológicas relativas à alimentação e ao viver dos antigos habitantes das fortalezas, a criação da oficina de rendas de bilro, o treinamento de guias mirins e universitários para expor corretamente a história da colonização, a publicação de diversos livros e documentos de divulgação sobre as fortalezas, a aquisição de novas esculturas para a capela de São José da Ponta Grossa, a realização de diversas exposições artísticas, de concertos musicais e de grupos de teatro, intensificados durante a temporada de verão. Sempre que possível, compareci com prazer aos eventos programados, os quais me proporcionaram alguns dos melhores momentos de deleite no exercício das funções de Reitor. Era com orgulho que ciceroneava os convidados da Universidade às fortalezas, nessas e em outras ocasiões, certo de proporcionar-lhes uma visão esplendorosa da extensão universitária em toda a plenitude de seu alcance social. Pela mesma razão promovi com alguma frequência reuniões de estudo e trabalho em Anhatomirim com os demais dirigentes universitários, para que se envolvessem na compreensão real do caráter aberto da universidade como agente promotor do desenvolvimento da cidade e da região em que se insere.
Ao final do mandato, havíamos recebido do Ministério de Minas e Energia a notícia de aprovação da proposta de iluminação com energia solar da Ilha de Ratones e nos empenhávamos para captar junto ao Banco do Brasil recursos para restauração da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba. Também lutávamos para a construção de amplo estacionamento nas proximidades do Forte de São José, equipamento indispensável para melhorar as condições de visitação àquele sítio histórico.
Na essência, porém, acredito que, no mandato da alta direção da UFSC, com a dedicação extremada de todos os colaboradores envolvidos, contribuímos fundamentalmente para a viabilização turística, económica e cultural do projeto das fortalezas da Ilha de Santa Catarina, dando-lhe a dimensão e a infraestrutura necessárias para que se tornasse um processo irreversível, instrumento da vocação turística de Florianópolis.
Florianópolis, 11 de setembro de 2000.
CONVERGÊNCIA DE DIRETRIZES, SIM. LOTEAMENTO DE CARGOS, NÃO.
CONVERGÊNCIA DE DIRETRIZES, SIM. LOTEAMENTO DE CARGOS, NÃO.
Minha CARTA DE PRINCÍPIOS EM PROL DA UNIVERSIDADE revelou um ponto polêmico que desejo aprofundar e esclarecer o máximo possível, reiterando minha postura de princípio e respeito.
As pressões dos grupos na conquista do poder são legítimas, mas impõem uma disciplina ética também. No regime democrático, ninguém pode aspirar ao poder sem buscar a convergência de princípios e diretrizes com os grupos de pressão, legítimos, que representam as diferentes facções de um processo eleitoral. No caso da Universidade, por exemplo, qualquer candidato deve necessariamente se propor a administrar dentro da convergência de diretrizes propostas pela APUFSC, ASUFSC e Diretórios Estudantis. Essa convergência, além de ser objeto de debates, pode ser objeto de compromissos formais firmados pelos candidatos, para serem seguidos rigorosamente pela gestão administrativa que for eleita com base em tais compromissos formais.
É evidente que, formalizados tais compromissos, não poderão ser nomeadas para os cargos executivos dos mesmos, pessoas que deles discordem. Entretanto, dentre as pessoas que concordarem em executar rigorosamente as diretrizes firmadas pela convergência política dos grupos de pressão, cabe ao mandatário maior, no caso o Reitor eleito, escolher nomes de sua confiança, para que se executem rigorosamente os compromissos formalizados nas convergências de diretrizes com os grupos legítimos de pressão eleitoral e organizacional dentro da Universidade.
O mero loteamento de cargos, sem definição prévia da convergência de princípios e diretrizes, e abolindo o direito do mandatário maior de exercer o privilégio da confiança, dentro do respeito à convergência de diretrizes previamente definidas, é imoral, é corrupção dos processos políticos com base em meros interesses venais, por cargos.
Florianópolis, 12 de agosto de 1987.
Prof. ANTÔNIO DIOMÁRIO DE QUEIROZ
CARTA DE PRINCÍPIOS EM PROL DA UNIVERSIDADE
CARTA DE PRINCÍPIOS EM PROL DA UNIVERSIDADE
A Universidade Federal de Santa Catarina está passando por importante momento de sua existência. Envolvida por um meio ambiente conturbado por séria crise econômica, política e social que ameaça a estabilidade das instituições, precisa, ao mesmo tempo, preservar a integridade de suas forças para a Reforma Universitária que lhe assegure a transição definitiva ao novo modelo de exercício pleno das funções de ensino, pesquisa e extensão.
No contexto de uma sociedade que busca nova ordem constitucional, a Universidade encontra a oportunidade de afirmar-se como uma instituição civil independente, responsável por importante contribuição ao desenvolvimento econômico e social do Brasil.
A Universidade Federal de Santa Catarina, em particular, não pode sucumbir à crise moral que tem sido uma constante na vida brasileira. Na condução sucessória da administração, os postulantes ao cargo máximo não podem relaxar certos princípios fundamentais em benefício de conveniências de grupos. Abrir mão do princípio de que o candidato eleito deve ter liberdade de escolher sua equipe administrativa pode perigosamente levar à circunstância de loteamento de importantes cargos de chefia na Universidade. Tal fato beneficiaria apenas pessoas que, em função de pressões ilegítimas sobre seus subalternos, visam a interesses que não são os da instituição. Por ter convicção de que tais pressões estão ocorrendo, venho a público manifestar minha preocupação e conclamar a todos os colegas professores, servidores e alunos desta Universidade a fazer uma reflexão em torno de princípios que considero de primordial importância:
. Todos os meios da Universidade devem estar voltados aos seus elevados objetivos de busca, geração, transmissão, investigação e difusão dos conhecimentos à comunidade.
. A Universidade deve passar por uma verdadeira reforma que privilegie a competência, o mérito, a função criativa tanto nas atividades acadêmicas quanto nas administrativas.
. A Universidade deve ter sempre presente sua responsabilidade social, como agente do desenvolvimento.
. A Universidade deve ser uma instituição aberta ao saber. Deve preservar e respeitar a pluralidade ideológica, servindo de laboratório às novas ideias. Deve ter habilidade para proceder a síntese dessas ideias como contribuição ao equilíbrio dinâmico da sociedade.
. A Universidade deve ser o ambiente da liberdade, onde floresça o espírito crítico.
. A Universidade deve ser uma instituição aberta a todos e a todas as idades. O ensino público e gratuito deve ser assegurado, como questão de justiça social.
. Para a Universidade poder atingir seus objetivos e cumprir adequada¬mente suas funções, precisa de autonomia:
autonomia financeira, com recursos orçamentários suficientes ao ensino, à pesquisa e à extensão, assegurados através de destaques próprios nos orçamentos públicos a nível federal e estadual, aplicados com critérios transparentes;
autonomia administrativa, para poder organizar-se convenientemente, atendendo às suas peculiaridades e às suas condições locais;
autonomia didática, para que seus currículos possam ajustar-se às necessidades e vocações regionais.
. A Universidade deve ser responsável, competente e produtiva e perseguir elevados padrões de qualidade. Nela, professores, alunos e servidores, unidos em torno dos mesmos objetivos, devem encontrar os meios e a motivação suficientes para o constante aperfeiçoamento e valorização profissional, através da realização no estudo e no trabalho.
Estes princípios devem estar na mente e no coração de cada professor, aluno e servidor durante todo o processo eleitoral que se inicia. É necessário eleger-se um Reitor comprometido com a aplicação destes princípios na gestão da Universidade. Sobretudo agora que existem as pré-condições favoráveis do projeto de isonomia, não se deve perder a oportunidade para somar esforço e empenho pela crescente valorização da UFSC.
Florianópolis, 06 de agosto de 1987.
Prof. Antônio Diomário de Queiroz