Publicado por Antônio Diomário de Queiroz como contracapa de “Tecendo o Saber Confessional Católico em Santa Catarina”, Toni Johem, Edição do Autor, 2006
A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS CATÓLICAS
Numa época que exige dos cidadãos e das organizações cultivar permanente atitude de flexibilidade e adaptabilidade às mudanças, em que as dimensões de tempo e espaço se tornam virtuais, o caráter das pessoas, sua espiritualidade, seu comportamento ético e moral constituem o que há de mais confiável para fazer face aos riscos e incertezas.
Em todas as organizações, quando as estratégias se assentam em sólidos princípios, crenças e valores, a efetividade no longo prazo é favorecida. As pessoas gostam de ser livres e respeitadas. Elas se comprometem com o futuro quando percebem identidade de propósitos e virtudes na visão dos líderes que justifiquem a convergência de ações.
A essência moral preserva-se na voz interior do ser humano. Nos momentos mais difíceis da vida, quando tudo parece desabar, quando mesmo pais, irmãos, esposos e esposas, e os melhores amigos se encontram ausentes para aconselhar, ou divergem orientações, é a voz transcendente de Deus gravada indelével nos corações que diz onde está o certo e onde o errado. É lícito estar em desacordo com todo o mundo; não se pode é viver em desacordo consigo mesmo.
No cotidiano, as pessoas convivem, porém, com a valsa das éticas diferenciadas das relações sociais. As organizações tentam impor crenças e valores, muitas vezes conflitantes, aos cidadãos. A superação desse conflito, preservando o equilíbrio emocional e a felicidade, exige muita clareza a respeito dessas crenças e valores, além de coragem e firmeza de opção. Essas atitudes se adquirem pela educação. Desde a primeira infância as crianças desenvolvem sua capacidade para a fé e sua confiança nos semelhantes como necessidade vital. As marcas da educação são para a vida toda.
A educação católica proporcionou-me sólida aquisição de valores humanos para a convivência na sociedade plural contemporânea em permanente transformação. A construção moral ditada pela vida de Cristo constitui-se num sistema de formação integral que ajuda a compreender e superar as limitações de nossa condição humana pela percepção da transcendência de Deus feito homem. Pela caridade, esperança, justiça social, paz, amor ao próximo, bondade, e outros valores cristãos que preparam para a liderança, o trabalho e a cidadania, afirma-se a cultura do espírito.
Fui alfabetizado pela irmã Firmina no Colégio Cristo Rei das irmãzinhas da Imaculada Conceição em Joaçaba, numa relação estimulante de ensino e aprendizagem que me levou rápido ao letramento. No Ginásio Frei Rogério, nessa mesma cidade, concluí os estudos fundamentais com os irmãos maristas. O irmão Nicanor foi meu ídolo naquela fase escolar: alegre, nos ensinava a cantar com entusiasmo; organizou um teatrinho para a turma angariar os meios de uma viagem cultural na formatura; tirava a batina para jogar futebol; alimentava longas conversas de otimismo sobre o futuro do Brasil. Ele foi o primeiro professor que vi educar bem mais do que instruir. No Colégio Santo Antônio de Blumenau, onde concluí o científico com os franciscanos, solidifiquei a disciplina e os bons hábitos de aprender. Frei Odorico Durieux constitui a imagem do excelente professor: culto, idealista, amigo, criou a Academia Monte Alverne de oratória e nos impulsionava com alegria para a perfeição, ensinando com prazer em nível elevado para nos desafiar a também levantar voo.
De todos esses anos de escola católica, só guardo boas recordações. Sinto-me formado para o bem, para o respeito aos outros, para a crença na dignidade humana, para a prática das virtudes sociais e para o abrigo da espiritualidade. Nessa escola, mesmo nas aulas de ensino religioso, prevaleceu o respeito à liberdade de crenças, sem proselitismo. É confiando nessa vivência que, com convicção, quando Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, construímos o Templo Ecumênico na Praça da Cidadania. E neste ano, no exercício da Secretaria de Educação Ciência e Tecnologia do Estado de Santa Catarina, estendemos a prática do ensino religioso como opção de todas as escolas públicas estaduais de educação básica.
Florianópolis, março de 2006.
Antônio Diomário de Queiroz.