CRÔNICA DA ITÁLIA 10 – SICÍLIA
Queridos amigos,
Chegamos à Sicília atravessando de navio o estreito de 4 km de águas profundas que a separa do continente italiano. Há muitos anos se renova nas eleições italianas a promessa de construir uma magnífica ponte no local, mas até agora nada! Desembarcamos em Messina, bela cidade. Estando com muita fome, fomos direto ao Ristorante Il Ficodindia, especializado em peixes e frutos do mar. Encontramos um ambiente alegre e excelente comida. Fizemos tantos elogios que, ao final da refeição, o Sr. Salvatore nos presenteou, para levar de lembrança, uma garrafa do ótimo vinho branco igual ao que havíamos bebido no almoço!
Após breve passeio, seguimos para Taormina. Foi a primeira cidade de colonização grega construída ao lado do mar na Sicília, fato ocorrido em 732 a.C,. com o nome de Naxos, Depois os habitantes migraram para a alta montanha protegendo-se dos invasores. Bem lá no alto se situava nosso Hotel Condor, como se fosse um ninho desse pássaro. A cidade é linda, densamente visitada por turistas. Ficamos felizes por tê-la escolhido em detrimento de Catania, nossa primeira opção, pretendendo dormir mais pertos do vulcão Etna. Mas ele também é visto muito bem de Taormina, como original cenário de um maravilhoso teatro grego construído na antiguidade, o palco voltado em direção às crateras.
Na manhã seguinte, subimos o Etna. Chegamos de carro próximo de 2.000 metros de altura, entrando nas duas pequenas Crateri Silvestri, na Stagione Sapienza. Dali para cima pode-se ainda avançar com transporte especializado até o topo da cratera principal, mas tivemos o juízo de abrir mão dessa aventura, pois, como diz o Rogério, “a gente começa a sentir a pressão alta”, ainda mais com o calor do vulcão que havia soltado fumaça e lavas há apenas duas semanas. Amplamente satisfeitos com a fascinante experiência, retornamos a Taormina. Sendo domingo, ainda tivemos fôlego para participar, na Igreja de Santo Antônio de Pádua, do terço, das ladainhas e da missa em homenagem e agradecimento ao nosso padroeiro, antes de jantar num típico restaurantezinho próximo ao hotel.
Na segunda-feira, visitamos o lindo centro da cidade, o comércio encantador dos gregos, bem como monumentos e outras igrejas. Concluímos pelo deslumbrante passeio panorâmico Antes de ir descansar, respondemos os testes de italiano para ingresso na Scuola Virgilio em Trapani, para onde seguimos no dia seguinte.
Atravessamos toda a Sicília, viajando pelo centro desta ilha de aproximadamente 25.000 km2, ou seja, correspondendo a pouco mais de um quarto do tamanho do Estado de Santa Catarina. Tem o formato triangular representado no seu símbolo histórico, a TRINACRIA, uma Medusa com tranças de serpentes, as três pernas dobradas na altura do joelho indicando os três pontos extremos da Sicilia: Capo Peloro di Messina, Capo Passero di Siracusa e Capo Lilibeo di Marsala. A ilha sempre representou uma posição estratégica no Mediterrâneo, por seus terrenos férteis, sendo grande exportadora de trigo, sal e vinho, constituindo-se Trapani no porto europeu mais próximo da África.
Antes de chegar a esta cidade de destino, passamos por maravilhosas paisagens tomadas por trigais amarelos em fase de colheita. Almoçamos em Piazza Almerino, onde visitamos a Villa Romana del Casale, sítio arqueológico caracterizado por fantásticos mosaicos de deuses, costumes antigos e símbolos do zodíaco.
Em Trapani, fomos recebidos ao anoitecer pelo Professore Stefano, que nos havia reservado um apartamento confortável pertencente à Scuola Virgilio, situado ao lado do seu, no centro histórico, Via delle Arti. Novamente fomos surpreendidos pela nossa boa sorte. Não esperávamos encontrar uma cidade tão bonita, um porto tão limpo, um comércio tão moderno e uma população tão bem vestida, alegre e feliz. Passamos a viver em um porto muito bem situado, na convergência do Mediterrâneo com o Mar Tirreno, próximo de diversas cidades lindas, de famosos sítios arqueológicos e de lugares históricos imperdíveis.
Assim, resolvemos fazer uma primeira viagem desde o primeiro final de semana, até Siracusa. Esta viagem mereceria uma crônica inteira. Vou resumi-la em dois parágrafos, porque já ando longe nos relatos.
Visitamos pela manhã a cidade de Salemi, “a primeira capital da Itália”, pois ali, em 1860, vindo por Marsala, Giuseppe Garibaldi, com seus 1.004 combatentes, venceu a primeira batalha pela unificação da Itália, recebendo do Decurionato, no dia 14 de maio, “la dittatura in nome di Vittorio Emanuele II di Savoia”, conforme registrado em placa no monumento em sua homenagem. Salemi simbolicamente foi a capital do país por apenas um dia. Tem um belo castelo Normanno-Svevo construído por Ruggero II d’ Altavilla, Rei da Sicília. Os monumentos da cultura árabe, suas igrejas e a tradição do pão santo mereceriam também maiores detalhes. Concluo, entretanto, com outra curiosidade: a visita ao Museo della Mafia, com documentação e testemunhos da vida dessa organização nos últimos 150 anos!
Prosseguindo em direção de Siracusa, visitamos o impressionante Valle dei Templi, di Agrigento, com vários templos dóricos muito bem preservados, de Hera, Concórdia, Ercole e Juno. Após esse mergulho na antiga civilização grega, fomos dormir em Scicli, conhecida como a capital mundial do barroco, situada em um vale, no qual chegamos no início do crepúsculo, impressionados com o iluminar de seus monumentos. Dormimos no belo Palazzo del Conte Ruggero, depois de haver saído para um alegre jantar na Osteria dei tre Colli durante o qual muito conversamos com um simpático grupo de pessoas da cidade.
Na manhã seguinte, entramos em Avola para comprar as típicas mandorlas (amêndoas) e o famoso vinho nero siciliano, e então prosseguimos até Siracusa. Visitamos magníficos monumentos e a Piazza di Archimedes, numa enfeitada carrocinha turística puxada a cavalo, que parava nos pontos principais, como o majestoso templo grego de amplas colunas transformado na catedral da cidade. A Rosa era percebida por alguns como a Lady Di da Inglaterra, e os turistas, e até mesmo os habitantes da cidade, não cansavam de nos saudar, filmar e fotografar. Nunca fomos tão fotografados na vida!
Um abraço, Diomário Queiroz.
Trapani, 14 de junho de 2011